Ansioso para conhecer a Irlanda, comecei a planejar meu itinerário com alguns meses de antecedência. Pesquisei estradas, cidades, vilas, castelos, lugares históricos, cidades medievais, lugares com natureza e, após 20 dias explorando a ilha, posso dizer que não só conseguimos explorar dos os locais mapeados, mas que encontramos diversas surpresas ao longo do caminho – um dos prazeres de viajar de carro! Compartilho aqui minha experiência e dicas para quem, assim como eu, quiser se aventurar com o próprio carro pela Irlanda.
Como detalhei a viagem toda, para quem tiver interesse em um tópico específico, pode pular direto através dos links:
A Irlanda
A Irlanda é uma Ilha com aproximadamente 82.000 km quadrados e é politicamente dividida em dois países. Ao sul, a República da Irlanda com aproximadamente cinco milhões de habitantes e, ao norte, a Irlanda do Norte, que faz parte do Reino Unido, com aproximadamente dois milhões de habitantes.
Se você tiver tempo disponível, recomendo conhecer os dois países. Mesmo a Irlanda do Norte sendo um país pequeno com 14.130 km, tem muita coisa linda para conhecer e um povo extremamente simpático, assim como seus vizinhos do sul.
Ficamos quase três semanas na Irlanda e Irlanda do Norte (recomendo mínimo de duas semanas para conhecer as duas).
O vôo de ida
Nosso vôo Florianópolis-São Paulo-Londres foi tranquilo. Passamos dois dias em Londres (para matar as saudades) e então embarcamos para Dublin. Ainda no aeroporto de Dublin, retirei meu carro que havia alugado no Brasil, e fomos direto para o hotel no centro da cidade. Passamos o resto do dia caminhando pelo centro e no dia seguinte bem cedinho colocamos o “pé na estrada” (decidimos deixar Dublin para “fechar a viagem”).
Como planejar sua viagem
Se você dispor de poucos dias (por exemplo, uma semana), tenha como base de partida Dublin.
Recomendo um mínimo de dois dias em Dublin e para os demais dias, dirija-se para o sul/oeste. Vale a pena conhecer Cork (1 dia) que fica aproximadamente uns 250km de Dublin. Após Cork, recomendo conhecer Dingle (1 dia) e então se dirigir para o oeste até Adare / Limerick (também 1 dia).
Dirija-se então para Liscanor para conhecer um dos maiores cartões postais da Irlanda – Cliffs of Moher.
Seguindo esse roteiro, você ficará encantado com as paisagens de cinema, com costões exuberantes, pequenas vilas típicas, casas coloridas com coberturas de sapé e muuuuitas ovelhas nas pastagens que cobrem quase toda a ilha.
Se você tiver duas semanas ou mais, recomendo um circuito completo da ilha, incluindo a Irlanda do Norte. Nós fizemos este circuito em 18 dias de viagem.
Nosso roteiro de carro
Viajar com seu próprio carro através da Irlanda é uma verdadeira aventura (das melhores): estradas muito boas, pistas simples na maioria dos lugares, mão inglesa… mas não tenha pressa , você vai querer parar o tempo todo para fotografar.
Nosso roteiro contemplava contornar a Ilha toda de carro, explorando a costa, interior, costões, baías, vilarejos históricos, castelos e acima de tudo, manter contato com o super simpático e acolhedor povo Irlandês.
Para nós, a melhor maneira de se conhecer um país é se hospedando em um Bed And Breakfast (B&B) e conversar com as pessoas locais. Os Irlandeses adoram um bom papo. Até o nosso inseparável chimarrão fez sucesso – para eles, o “Green Tea à Brasileira”.
Gosto muito de visualizar minha rota em viagens e, para isso, sempre utilizo um mapa físico. Este foi nosso planejamento para a Irlanda:
DIA | CIDADES VISITADAS | DIST. PERCORRIDA (km) | HOSPEDAGEM |
---|---|---|---|
1 | Chegada em Dublin | – | Dublin |
2 e 3 | Glendalough, Wexford | 60 + 138 | Wexford |
4 e 5 | Waterford, Cork | 60 + 120 | Cork |
6 e 7 | Glengarrif, Killarney , Dingle | 90+67+64 | Dingle |
8 | Adare, Limerick | 130 + 20 | Limerick |
9 | Liscanor / Cliffs Of Moher | 80 | Liscanor |
10 | Galway | 80 | Galway |
11 | Donegal | 220 | Donegal |
12 | Donegaal e Redondezas | – | Donegal |
13 | Coleraine / Giants Causeway | 140 | Coleraine |
14 | Armoy / Dark Hedges / Belfast | 30+90 | Belfast |
15 | Belfast dia todo | – | Belfast |
16, 17 e 18 | Dublin 3 dias | 170 | Dublin |
19 | Retorno ao Brasil | – | – |
Iniciamos nossa viagem na costa ocidental, a partir de Dublin, no sentido sul através da Rodovia N11.
No caminho para Wexford fizemos uma parada para conhecer Glendalough, um vilarejo medieval do século VI, com ruínas de pedras, torres e monastério medieval muito bem conservados.
Mais duas horas de viagem, sem pressa, já estávamos em Wexford. Cidadezinha pequena (25.000 hab) com uma linda arquitetura típica irlandesa.
Nos hospedamos em um magnífico B&B bem no centrinho da cidade. No dia seguinte fomos conhecer a cidadezinha e passar pelo lindo Johnstown Castle, uma verdadeira mansão em meio a jardins e bosques nos arredores de Wexford.
No terceiro dia, continuamos nossa viagem para Cork. No caminho paramos para conhecer Waterford, uma das cidades mais antigas da Irlanda, fundada pelos vikings no ano de 914.
De Waterford a Cork, continuamos pela N25, uma rodovia costeira que nos oferece vistas espetaculares dos costões (cliffs) do Atlântico Norte, permeada por lindas aldeias de casas típicas e vilas de pescadores. No final do dia, após inúmeras paradas para fotografar, chegamos a Cork. Como sempre preferimos, procuramos nos hospedar em B&B, onde geralmente encontramos pessoas extremamente simpáticas, que na maioria das vezes são os proprietários, e que nos dão muitas e valiosas “dicas” sobre o lugar e também sobre nosso roteiro.
O que fazer em Cork
Atrações imperdíveis em Cork e arredores:
1- Blarnei Castle
2- The English Market
3- Saint Patrick Street (restaurantes, lojas) – meu roteiro previa ir diretamente para Dingle pela N22, porém à noitezinha tomando um chá/chimarrão com nosso anfitrião do B&B, ele nos recomendou uma rota cênica que eu não tinha lido em nenhum lugar. Pela N584 chegamos em Glengarriff, famosa pelos inúmeros filmes ali rodados e onde morava a atriz Mauren O’hara – imperdível!
De Glengarriff, atravessamos o Kilarnei National Park para no final da tarde chegar em Dingle, nosso ponto mais oriental da Irlanda, e um dos cartões postais mais marcantes .
O que fazer em Dingle
1- Saia bem cedo e contorne toda a península. Não esqueça do lanche e água pois vai ser quase 1 dia inteiro de passeio. Paisagens de cinema – você vai querer parar o tempo todo.
2- Gallaraus Oratory . Uma capela de pedra do séc XII.
3- Brandon Mountain (vista espetacular da baía de Dingle)
4- Dingle Ocean Aquarium
5- An Diseart – Centro de Cultura em um prédio muito lindo.
Após dois dias em Dingle, rumamos para Limerick pela N21. No caminho encontramos muitas casas típicas com telhados de sapé. A vila de Adare foi a que mais gostei.
O lado oriental da Irlanda é um cartão postal de paisagens cênicas . Culturalmente rico em contos e lendas decorrentes das invasões dos vikings e em tempos depois, a conquista dos normandos.
Se você gosta de história e cultura em suas viagens este é um dos lugares perfeitos.
O que fazer em Limerick
Limerick é uma cidade medieval do séc. VIII (100.000 hab)
1- King John”s Castle (séc. XII )
2- St. Mary”s Catedral
3- Ruas centrais / comércio / pubs
No dia seguinte , pegamos a estrada para encontrar outro ponto alto da nossa viagem, e um dos mais belos cartões postais da Irlanda: Cliffs of Moher, na vilazinha de Liscannor .
São mais de 10 km de paredões verticais de tirar o fôlego com altura/queda vertical de mais de 200 metros. IMPERDÍVEL.
Reserve pelo menos meio dia para este lugar maravilhoso.
Pernoitamos em Liscannor e então seguimos para GALWAY.
O que fazer em Galway
Galway é uma cidade medieval e uma das mais importantes da costa oeste da Irlanda.
Em seus tradicionais pubs, você vai encontrar a verdadeira música irlandesa ao vivo (Irish Folk). Vale a pena passear pelas ruas Eyre Square e Shop Street, com centenas de lojas, cafés, pubs e presença de muitos jovens Irlandeses.
Outra visita que vale a pena é a Catedral de Galway. Se dispor de tempo ainda, visite o Spanish Arch, local onde o Rio Corrib se encontra com o Atlântico.
A Kylemoore Abbey, com seus jardins estilo vitoriano, também vale a visita.
Se o tempo estiver bom, dirija por 11km pela Sky Drive para ter a melhor vista dos cliffs/Penhascos do Atlântico norte.
De Galway, pegamos a N17 e rodamos 200 km até Donegal.
O que fazer em Donegal
Cidade média com 170.000 hab que fica em um vale cercado por montanhas a leste e norte (Blue Stack Mts) e a baía de Donegal a oeste.
O centro histórico é repleto de calçadões para pedestres com muitos bons hotéis, B&B, pubs, lojas e restaurantes. Vale a pena passar um dia inteiro ou dois na cidade se você dispor de tempo.
Recomendo no mínimo:
1- Donegal Castle (séc. XV)
2- Malin Head (Penhascos/Cliffs /Natureza).
3- Doagh Famine Village – casas em estilo Irlandês do séc. XVIII que mostram como era a vida naquela época até os dias atuais.
De Donegal fomos direto para a Irlanda do Norte com o objetivo de visitar em primeiro lugar Giants Causeway – a “Calçada dos Gigantes”.
Após rodarmos 120km, chegamos em Coleraine, onde encontramos um excelente B&B para pernoitarmos. Com acomodação garantida, fomos para a estranha formação rochosa. Na entrada do complexo onde você compra o ingresso, existe uma ótima estrutura turística com todas as informações e transporte de micro ônibus até as GIANTS CAUSEWAY, a segunda maior atração turística da Irlanda do Norte – recomendo!
No dia seguinte, seguimos para Armoy para conhecermos o cartão postal mais fotografado da Irlanda do Norte: Dark Hedges.
Estrada em formato de túnel de árvores centenárias, a qual foi transformada em cenário da série Games Of Thrones na segunda temporada (ocasião em que Arya Stark escapou de Porto Real disfarçada de menino).
Para chegar lá, coloque em seu GPS “Bregagh Road, Ballymoney, Irlanda do Norte”. Existe um estacionamento próximo e você vai caminhando por entre as árvores e fotografando por todos os lados. IMPERDÍVEL.
Após curtir as maravilhosas sensações de estar dentro deste cartão postal e centenas de fotos, rumamos para Belfast.
A periferia da capital causa uma grande estranheza enquanto você vai dirigindo. A maioria dos pequenos edifícios têm suas paredes pintadas com fotos do Ira, dos tempos da guerra. Soldados com armas e temas deste gênero estão por toda parte.
Porém, ao chegar no centro de Belfast, fiquei impressionado com a beleza da cidade: super limpa, calçadas lindíssimas de tijolos vermelhos com desenhos, muitos shopping modernos, lojas, restaurantes…
O centro histórico é uma maravilha, com belos edifícios de tijolos vermelhos, o Parlamento em seu edifício histórico, a City Hall lindíssima, a Queens University… Aqui também você verá estátuas e pinturas do Ira por todos os lados para lembrar os anos de guerra entre protestantes do norte e católicos do sul.
No dia seguinte, agendamos visitas guiadas ao Parlamento e também à City Hall para entendermos também na versão deles fatos da época difícil para ambas as partes. Recomendo estas visitas, muito bem elaboradas.
O que fazer em Belfast
1- Titanic Belfast Museum
2- St. George”s Market ( Rua de lojas e Shopings)
3- City Hall
4- Parliament Buildings
5- Queens University (Arquitetura lindíssima)
6- Belfast Castle
7- Belfast Cathedral (St Anne )
Depois de dois dias em Belfast, rumamos para nosso destino final: Dublin.
Pegamos a A1 e em apenas duas horas (160 km) de viagem já estávamos no centro de Dublin. Recomendo no mínimo dois dias inteiros em Dublin, se tiver três fica ainda melhor.
Dublin lembra algo de Londres (arquitetura e parques ), com a diferença de ser uma cidade menor, mais aberta, muito espaço verde, pubs em praticamente todos os lugares e um clima alegre e descontraído.
O que fazer em Dublin
1- Fábrica da Guinnes – uma das principais atrações da cidade e onde todo turista quer ir. Compre o seu ingresso e vá fazer um tour guiado pela fábrica para conhecer como a Guinnes era e é feita .
Você ganhará muitos tickets para poder provar uma infinidade de tipos desta cerveja recém saídas dos barris. No Pub da Guinnes (no terraço da fábrica), você finalizará o tour cervejeiro com muitos tickets ainda para gastar. Beba com moderação e volte de táxi.
2- Visite o Trinity College e vá à velha Livraria onde está o “The Book Of Kells”, um livro manuscrito dos quatro Evangelhos datado do século IX.
Na biblioteca você poderá apreciar coleções intermináveis de manuscritos ornamentados desta época e muito bem preservados. Vá bem cedo porque terá fila para comprar ingresso e fila para entrar na Biblioteca.
Trinity College- Biblioteca
3- Passe pelas pontes e passarelas de pedestres do Rio Liffey e vá ao Bairro mais tradicional de Dublin, THE TEMPLE BAR . Um bairro com cara de medieval mas com atmosfera jovem e super atual. Ruas estreitas e rodeadas por casarões de tijolos vermelhos que mantêm uma atmosfera do século XVII.
A principal atração neste lado do rio são as dezenas de pubs, um mais lindo e colorido que o outro. A estrela destes é o Temple Bar , sempre lotado , a sua cor vermelha inspira os concorrentes.
4- Relaxe um pouco no St. Stephens Green, um grande Parque/Jardim a cinco minutos a pé da St. Patrick”s Cathedral.
5- Se for apreciador de whiskey, visite o Jameson Whiskey Factory para ver como se fabrica o verdadeiro whisky Irlandês.
6- St Patrick”s And Christ Church Cathedral – Antigas e interessantes, as duas Catedrais de Dublin formam um complexo muito lindo. Foram construídas ao lado de um poço onde os Santos Padroeiros da Irlanda se convertem no ano de 1220. Repletas de monumentos , vitrais lindíssimos e uma impressionante capela. Vale a visita.
7- Dublin Castle, construído no local de uma fortaleza dinamarquesa viking do ano de 930 e tem seu início em 1230 pelo Rei John da Inglaterra.
Espero que minha experiência de viajante independente seja útil de alguma forma para aqueles que estão pensando em se aventurar por conta própria.
Não mencionei nomes de hotéis ou B&B de propósito. Meu costume é sempre procurar por melhores preços, localização, e também por um atendimento familiar.
Costumo fazer uso de diversos aplicativos de busca por Hotéis e B&B ,mas com freqüência faço uma lista prévia destes por cidade , com endereços e faixa de preços praticados , e com isto na minha bagagem , viajo em aberto, chego em cada lugar, vejo im loco as condições , ambiente, atendimento, e se gosto , faço minha reserva na hora fazendo uso de aplicativos para não pagar preço de recepção. Funciona muito bem .
O segredo é você escolher a melhor época para sua viagem. Não costumo viajar em meses de alta temporada, tudo é mais caro e lotado de turistas. Procuro sempre as estações de primavera ou outono, quando os dias são mais agradáveis e a natureza nos brinda com as maravilhas da estação.
Bom planejamento, boa sorte e boa viagem.